30 de Abril de 2008 - O dia que mudou a minha vida








No dia 30 de Abril de 2008, depois de reuniões intermináveis de passagem da pasta do Serviço Jurídico na empresa onde trabalhava, saí para mais uma consulta de obstetrícia de rotina. Cansada, mal dormida e enfartada desde o dia anterior, é verdade, mas nunca pensei que esse dia mudaria a minha vida para sempre...
Depois de uma ecografia onde se verificou uma taquicardia fetal e falta de movimentos fetais, fui enviada para o hospital para passar a noite para monitorização. Ainda perguntei se podia ir à casa para ir fazer a mala para a noite mas calmamente o médico mandou-me de imediato para o hospital. Por volta das 10h da noite, parecia que o bebe tinha estabilizado. Às 11h da noite fui posta a soro e à meia-noite foi feito o toque. Às 00h04 uma equipa de médicos e enfermeiros entraram a correr no quarto e disseram que o bebe tinha que ser "tirado" de imediato. Mandei chamar o meu obstetra porque achei que estavam todos loucos e que só ia fazer o parto se o meu médico dissesse que tinha que ser. Pensava eu que não era possível nascerem bebes antes do tempo. Que ingénua para quem já tinha 32 anos!! Que burra!
O Miguel fez a 2ªCircular a 200km/h para ir buscar o kit de criopreservação (que o médico não conseguiu recorrer, situação que nunca se viu acontecer), o meu obstetra fez o parto descalço porque com a pressa de chegar ao hospital perdeu os sapatos.
Depois de muito sofrimento numa cesariana, foi-me dada anestesia geral, e assim nasceu o Quico.
E assim, nasci eu, o Miguel e toda a nossa família.
Este foi o dia em que a minha vida mudou... Que parte de mim morreu; que percebi a importância e a "desimportância" das coisas; que conheci a verdadeira tristeza e dor (pior só a morte de um filho); que perdi a crença em Deus, porque se Deus existe não pode dar às crianças este sofrimento; que perdi a alegria; que me passei a sentir mal com outras crianças.
Estou a relatar isto com um nervosismo na barriga como se fosse fazer a minha última oral do curso. Não consigo ultrapassar este momento. Não consigo deixar de culpar tudo e todos. Eu, porque me senti mal 1 dia e meio antes e não fiz nada, porque fiz alguns disparates no fim de semana anterior. O médico, porque com tudo o que já ia mal no parto ainda o puxou mais que lhe causou 1 hematoma, porque todos os dias de internamento do Francisco me visitou no hospital e nunca me disse que me tinha mudado as nossas vidas, como se fosse Deus ou o Diabo, porque salvou 1 vida incompleta, porque não conseguiu recolher as células estaminais. Toda a equipa do Hospital, que nunca disse o que se passava. Os avanços da medicina, que salvam vidas para as tornarem impossíveis para o resto da vida.
Enfim, mas como a minha super-mãe (e a melhor avó que o Francisco podia ter), num momento de desespero e de dor, uma vez me disse "agora é nosso, não o podemos deitar fora", tudo fazemos para o ajudar e todos os dias acreditamos na sua reabilitação.
E assim, porque apesar de todas as "circunstâncias" do Francisco, na escola e em casa teve direito à sua festinha, como qualquer criança. E eu, como outras mães, estive feliz porque o meu filho faz 4 anos!
Se o Francisco gostou? Gostou mais quando ficou sozinho com o Pai, a Mãe e o mano. Aí sim, foi o Rei da Festa. Mas nem todos são iguais e o Quico gosta de festa mas em privado.
Para o ano há mais!
Sara

Comentários

  1. Sara,
    revejo-me em muitas das tuas palavras.
    Embora de outra forma, também tive um imprevisto há dois anos e muitos dos sentimentos que descreves, são-me familiares.
    Acho que nos podemos ir buscar forças umas às outras e aos sorrisos que os nossos filhos nos dão.
    Beijinho muito grande e muitos parabéns,
    susana

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  2. Sara! Não posso deixar de pôr aqui um comentário ao que acabei de ler e que, com todo o respeito que tenho por ti, nunca falei contigo sobre o que nos acabaste de relatar. Por isso, queria dizer-te do fundo do meu coração, que tenho IMENSO orgulho em ti! Tu sabes bem porquê! Um beijinho ENORME para ti, sim para ti!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olá, olá

    Nem sei bem o que escrever...

    Eu sei o que sentes, porque também já o senti, mas, não sei bem como, acabei por aceitar e a partir de um momento qualquer, que não sei especificar, percebi que para além de viver um dia de cada vez, tinha que dotar o Afonso do meios que ele necessita para ser autónomo, sem nunca desistir!

    Dar-lhe autonomia com uma cadeira, com um computador, tu sabes, com o que for necessário mas continuar a lutar pela reabilitação com terapias diárias.
    As palavras são minhas mas podiam ser tuas porque tu fazes, diariamente, exatamente o mesmo e também sei que o tempo e o amor incondicional que sentes pelo Quico, te vão ajudar a ultrapassar a dor, devagarinho, dia após dia...

    Não estás sozinha, tens uma familia maravilhosa que te apoia e amigas que estão do teu lado, que sentem cada palavra, cada lágrima, que podem dizer eu imagino, porque vivem a mesma situação que tu, por isso, por favor, nunca te sintas sozinha.

    Muitos beijinhos

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  5. Querida Sara: que sorte que o Quico tem por ter uns pais fantasticos como tu e o Miguel.
    Um grande beijo com muita amizade e carinho.

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  6. Olá Sara, nem imagina como estou depois de ler um pouco de tudo, só de pensar que só ainda agora comecei e tenho tanto pela minha frente. Já respondi às suas perguntas do face, mas depois de ler tudo isto tenho mais a dizer, mas depois logo envio-lhe outra mensagem. Obrigado por escrever tudo isto, faz-me sentir diferente porque pensamos que estamos sozinhas, que somos os únicos. As frases que são mesmo aquilo que eu sinto.
    Beijinhos
    Bjs

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  7. Olá Sara, nem imagina como estou depois de ler um pouco de tudo, só de pensar que só ainda agora comecei e tenho tanto pela minha frente. Já respondi às suas perguntas do face, mas depois de ler tudo isto tenho mais a dizer, mas depois logo envio-lhe outra mensagem. Obrigado por escrever tudo isto, faz-me sentir diferente porque pensamos que estamos sozinhas, que somos os únicos. As frases que são mesmo aquilo que eu sinto.
    Beijinhos

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